POEMAS IBÉRICOS (17) DOS POEMAS INÉDITOS DE OZIAS FILHO

 

DESCARGAR

©Leonor Rêgo

 

 

 

Ozias Filho (Rio de Janeiro/1962) es poeta, fotógrafo y editor. Há publicado Poemas do dilúvioInsularesPáginas despidas y O relógio avariado de Deus; presentó en 2022 su primer libro infantil, Confinados, con ilustraciones de Nuno Azevedo. Como fotógrafo tiene varios libros publicados, y exposiciones, de las que destacamos Ar de Arestas, en el Museu de Arte Moderna Murilo Mendes, en Brasil; formo parte de la iniciativa Passado e Presente – Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017, com o ensaio Quasinvisível. Ha participado en varios festivales de literatura, de los que destacan O FOLIO, Festival Literário Internacional de Óbidos, en Ronda (Leiria), Encontro Ibero-Americano de Poesia (Casa da América Latina/Lisboa), Encontro de Escritores Lusófonos (Odivelas), y Festival Silêncio (Lisboa). Vive en Portugal desde 1991. Es editor en las Edições Pasárgada. Recientemente publicó os libros Os cavalos adoram maçãs e Insanos, ambos de poesia. Firma mensualmente la columna, Quem eu vejo quando leio, para el Jornal Rascunho.

 

 


 

o cofre

o que guardo no coração?
 
pedaços de bilhetes para muitos lugares
pedaços de bilhetes para muitos lugares na memória
pedaços de bilhetes para muitos lugares na memória
que eu não quero esquecer
 
tampinhas de Coca-Cola com a bandeira do Brasil
tampinhas de Coca-Cola com as bandeiras dos países da América do Sul
tampinhas de Coca-Cola com as bandeiras de todos os países do Mundo
(muita Coca-Cola eu bebi, meu Deus, por causa das bandeiras)
 
a caixa de costura em madeira da minha mãe
a caixa de costura em madeira com a minha colecção de ostras
a caixa de costura em madeira com os barulhos do mar
a caixa de costura em madeira que a minha mãe silenciou na lata de lixo
 
o que guardo no coração?
 
andar de bicicleta na rampa do mercado de bairro
o braço partido na rampa do mercado de bairro
a bronca da mãe que avisara sobre a rampa do mercado de bairro
o gesso assinado do braço partido na rampa do mercado de bairro
 
a descoberta com a prima do algo proibido
a chinelada no rabo por causa do algo proibido
o elevador da batcaverna no improviso do poste da rua
a chinelada no rabo como prémio pela minha queda do poste da rua
fumar escondido na casa de banho das meninas
fumar sem a chinelada no rabo
a minha mãe nunca soube do cigarro, nem das meninas
 
o poema que fiz para Alice
o poema que entreguei para Alice à porta do bar na Rua Farani
o beijo na boca que ganhei de Alice por causa do poema
 
o que guardo no coração?
 
é bem mais do que consigo guardar numa vida de papéis
não cabe nesta página ou na caixa de sapatos
arrumada num canto qualquer da despensa
está algures, sépia, vivo e por vezes fechado
em cofre há muito esquecido
 
o que guardo
não é como uma fotografia de Itabira na parede
mas como dói
 

(inédito/do livro Poemas infantis para quando eu for grande)


 la caja fuerte

¿Qué guardo en mi corazón?
 
pedazos de billetes a muchos lugares
pedazos de billetes a muchos lugares en la memoria
pedazos de billetes a muchos lugares en la memoria
que no quiero olvidar
 
tapones de coca-cola con la bandera de Brasil
tapones de coca-cola con las banderas de los países de Sudamérica
tapones de coca-cola con las banderas de todos los países del Mundo
(Oh, Dios mío, demasiada Coca-Cola bebí, por las banderas)
 
el costurero de madera de mi madre
el costurero de madera con mi colección de ostras
el costurero de madera con los sonidos del mar
el costurero de madera que mi madre silenció en el basurero
 
¿Qué guardo en mi corazón?
 
montar en bicicleta en la rampa del mercado de barrio
el brazo roto en la rampa del mercado de barrio
el regaño de mi madre que alertó sobre la rampa del mercado de barrio
el yeso firmado del brazo roto en la rampa del mercado de barrio
 
el descubrimiento con la prima de algo prohibido
la zapatilla en el culo por algo prohibido
el ascensor de la batcueva en la farola improvisada
la zapatilla en mi culo como recompensa por mi caída de la farola
fumando escondido en el baño de chicas
fumar sin la zapatilla en el culo
mi madre nunca supo de cigarrillos, ni de las chicas
 
el poema que hice para Alice
el poema que le entregué a Alice en la puerta del bar en la calle Farani
el beso en los labios que me dio Alice por el poema
 
¿Qué guardo en mi corazón?
 
es mucho más de lo que puedo guardar en una vida de papeles
no cabe en esta página ni en la caja de zapatos
guardada en un rincón de la despensa
está en algún lugar, sepia, vivo y a veces cerrado
en un cofre hace mucho olvidado
 
lo que guardo
no es como una foto de Itabira en la pared
mas como duele


 

 

 

quasinvisível

como a criança

o fotógrafo esconde-se
atrás das mãos
e acredita que ninguém o vê

 

casi invisible

 

como el niño

el fotógrafo se esconde

detrás de las manos

y cree que nadie lo ve

 

 

(inédito/do livro Poemas infantis para quando eu for grande)


Comentarios

Entradas populares de este blog

POEMAS IBÉRICOS (19) TRES POEMAS DE JOSÉ LUIS PUERTO

POEMAS IBÉRICOS (38) POEMAS INÉDITOS DE JORGE VELHOTE

POEMAS IBÉRICOS (25) DOS POEMAS INÉDITOS DE ROSAURA ÁLVAREZ