POEMAS IBÉRICOS (18) POEMAS DE BLANCA MOREL

DESCARGAR



 

BLANCA MOREL (Madrid-Espanha, 1970). Poeta, narradora e performer. Licenciada em Jornalismo pela Universidade Complutense e mestre em Literatura Comparada e Crítica Cultural pela Universidade de Valência. Membro da Associação feminista de mulheres poetas Genialogías. Participa nas antologías poéticas [Ex]centricidad. 11 poetas que abren camino en la poesía española contemporánea (1959-1986) (2022) e no livro objeto Hypnerotomaquia -batalla en el sueño (2017). Publicou em poesia Bóveda (2008), Pájaro sangre (2016), Pan impuro (2017), La ladrona (2018), No hay domingo al oeste de Omaha (2019) e Polvo (2023); e em narrativa o livro de relatos Misión secreta (2019, Ed. Malbec).

 

 

 


 

 

 

limpiar es luchar

lucho

y el polvo renace

 

limpiar es un acto mítico

un acto heróico

 

limpar é lutar

eu luto

e o pó renasce

 

limpar é um acto mítico

um acto heróico

en un cajón de la cocina

la sra. x olvidó algunas pequeñas patatas

y no se pudrieron

en cambio se pusieron gomosas

echaron largas antenas

en la oscuridad

del cajón

 

mientras limpiaba aquello

fue hermoso y extraño contemplar

la persistencia de esos seres olvidados

 

las pequeñas patatas

eran ahora salvajes

supervivientes

no eran alimento sino

delirio de vida

furia

ascensión 

 

numa gaveta da cozinha

a sra. x esqueceu-se de umas batatas

e elas não apodreceram

em vez disso, ficaram borrachosas

criaram longas antenas

na escuridão 

da gaveta

 

enquanto eu limpava aquilo

era bonito e estranho contemplar

a persistência desses seres esquecidos

 

as batatinhas

eram agora selvagens

sobreviventes

não eram comida mas sim

delírio de vida

fúria

ascensão

 

cada día tiene dos tiempos

el día nuevo

y el día viejo

 

el día viejo

acumula el polvo

de los días pasados

 

el día nuevo

es una flor

que nace

sin memoria

 

cada dia tem duas metades

o novo dia

e o dia velho

 

o velho dia

acumula a poeira

dos dias passados

 

o novo dia

é uma flor

que nasce

sem memória

 

 Del libro Polvo / Pó (2023)

 Traducción de SAL

 

 anoche se detiene

anoche la oscuridad lila

cuernos anoche antílope extasiado de estrellas

estabas y no ha pasado aún

estabas y esto no ocurre

estabas detenido insólita piedad

anduvimos tan llenos de no sé qué en estos bosques

 anoche hay que cantar anoche

el mugido del sol en el ocaso

 anoche y las sombras olfatean

sirenas son las vacas de la noche

nodrizas de serpientes mis pechos

las ubres se me llenan de sombras

anoche basta

anoche loca soledad

anoche empezará después

de los pájaros caídos en el aire

anoche casi fuimos

guirnaldas de cuerpos lejanos

anoche no fulminaste la roca

anoche mis pechos se hundieron

profundos túneles anoche

profundos túneles anoche

profundos túneles anoche

anoche treinta y dos mil ángeles elevaron las ruinas de mi cuerpo

y ahora somos ruinas limpias sin dueño

 

anoche es mi ofrenda oscura

 

 

 Ontem à noite demorou-se

 

Ontem à noite escuridão lilás 

chifres ontem à noite antílope pejado de estrelas

estavas e sem passado

estavas e isto não acontece

estavas detido insólita piedade

andavamos tão cheios de não sei quê nestes bosques

 

ontem à noite há que cantar ontem à noite 
o mugido do sol no ocaso
 
ontem à noite e as sombras cheiram
sereias são as vacas da noite
amas de leite serpenteiam meus peitos
as úberes enchem-me de sombras 
 
ontem à noite satisfaz
 
ontem à noite louca solidão 
 
ontem à noite começará depois
dos pássaros caídos no ar
 
ontem à noite quase fomos 
 grinaldas de corpos distantes
 
ontem à noite não destruiste a pedra
 
ontem à noite os meus peitos fundiram-se
profundos tuneis ontem à noite 
profundos tuneis ontem à noite
profundos tuneis ontem à noite 
 
ontem à noite e, trinta e dois dois mil anjos elevaram as ruínas do meu corpo
e agora somos ruínas limpas sem dono 
 
ontem à noite és a minha oferenda escura.

 

 

Poema inédito.2023

Traducción de Céu Pereira


Comentarios

Entradas populares de este blog

POEMAS IBÉRICOS (83) DOS POEMAS DE MARIA CARVAJAL

POEMAS IBÉRICOS (81) TRES POEMAS DE CONCHA ORTEGA

POEMAS IBÉRICOS (79) TRES POEMAS INÉDITO DE FERNANDO ESTEVES PINTO