POEMAS IBÉRICOS (54) POEMAS DE CONCHA GIL

 DESCARGAR



BIOGRAFÍA LITERARIA

Concha Gil, Carrión de los Céspedes (Sevilha), 1958.

Poeta autodidata e contadora de histórias. Publicou as seguintes colectâneas de poemas:

-De la memoria y sus huecos (1995, primeiro prémio de poesia Certamen Literario Nacional Jornadas de la Mujer, Carrión de los Céspedes).

 -Te he esperado", poema, (2014, finalista do Certamen Internacional de Poesía Carmen Merchán Cornello, Cazalla de la Sierra e segundo prémio de poesia Certamen Literario internacional Ciudad de Cantillana 2015).

Participou nas antologias: Haz de palabras, 2001; Versos para la vergüenza, 2016; Poetas con Miguel Hernández, 2016; Conciencia en llamas, 2018; Se abre el telón, 2019; Poetas de guardia, 2024.Autora das colectâneas de poesia: Texere ecerT (launviva, 2018), Te he esperado (el corazón y un día) (launviva, 2021), Udumbara (launviva, 2023).

 


 Muerta está la palabra

En la noche en que se ausenta el minutero.

Yace mi voz sobre el rastrojo.

Descalzos, mis pies estrujan amapolas azabaches

aquí y ahora, hundo mi huella y mi lágrima.

Tierra sagrada de mis ancestros,

en la que todos los girasoles han sido decapitados.

 

A palavra está morta

Na noite em que o ponteiro se ausenta.

A minha voz repousa sobre o restolho.

Descalços, os meus pés esmagam papoilas azuladas

Aqui e agora, afundo a minha pegada e a minha lágrima.

Terra sagrada dos meus antepassados,

Onde todos os girassóis foram decapitados.

 

 De Udumbara, 2023

 

A Vladimir Holan

 

esta luz

acento

en la ruina otoñal del muro

     donde hierran a los caballos

 

el desportillado alféizar rizado de las plantas

 

(un encaje ocre

   delata fugacidades)

 

el frutero de senos naranjas

           donde el sol clava su día

 

mi mano…

y este resplandor

     sin rescoldo de sombra

 

sobre el papel escrito

 

la lenta metamorfosis de cada suceso

           espiral de inmediatos posibles

               en el rojo alero del tejado

 

la humilde lucidez del misántropo pino

           

           entre tanto

    las chimeneas encendidas

    y las casas vueltas memoria

y tú…

lejano Holan

            que ungiste la hora de toda verdad

            con el azúcar remoto

                        que destella tan verde

 

secreta alquimia

que hoy realiza su sagrada forma

                        y es intuición

 

como tú, Vladimir,

yo también

-dos soledades que se rinden homenaje-

he aprendido a contemplar la nube sin la nube

 


esta luz

acento

na ruína outonal do muro

     onde ferram os cavalos

 

o peitoril lascado e coberto de plantas

 

(um laço ocre

   trai a transitoriedade)

 

 a fruteira de peito alaranjado

           onde o sol tatua o seu dia

 

a minha mão...

e este esplendor

     sem o rescaldo da sombra

 

sobre o papel escrito

 

a lenta metamorfose de cada acontecimento

           espiral de possíveis imediatos

               no vermelho do beiral do telhado

 

a humilde lucidez do pinheiro misantrópico

           

            entretanto

    as chaminés acenderam-se

    e as casas viraram memória

e tu...

o distante Holan

          que ungiu a hora de toda a verdade

          com o açúcar remoto

                      que brilha tão verde

 


alquimia secreta

que hoje realiza sua forma sagrada

                      e é intuição

como tu, Vladimir,

e eu também

-duas solidões que se homenageiam mutuamente-

aprendi a contemplar a nuvem sem a nuvem

 

ENFRENTE


...y aquí,

 en la buhardilla -los ojos, dos canicas-

tras los cristales sucios, tras la reja gris plateada

de herrumbrosos rosetones, donde mana el óxido

y es un licuarse la mañana en neblina,

tras las ramas verde amarillentas

del gigantesco árbol del Paraíso,

tras la valla -improvisado collage- construida a ratos,

a cachos de objetos, a remiendos de vida

-hombres sin rostros, con mascarillas-, ahí,

y en perspectiva, al raso, al fin la yegua castaña,

con su vida fuera de la asimétrica cuadra,

y su blanco lucero -pacífico huracán doméstico-

clavado en la frente como un matasellos de leche cuajada.

Noble y solitaria bestia, cotidiana compañía tan libre,

que cabriola sobre el barbecho del terreno, enfrente.

La que -junto a los trenes del día (y de la noche),

que chirrían y pasan silbantes, salvajes- relincha

en un don atávico de brío y consuelo; entre tanto

maulla Dona, siguiéndome por toda la casa,

por el corral abierto a los innúmeros astros

-visibles e invisibles- fiel compañera felina

tras la alienación, como un luto, de mis pasos lentos

y los tropiezos de mis plantas descalzas.

(Traslación de círculos, de hábitos carcelarios, hoy).

Toda ella en profuso, íntimo, ronroneo, vibración

casi astral, que me cura -de mí, de mis lamentaciones,

del miedo- Dona...

con su rotunda, nívea lágrima -nacida de su M ceniza- capricho de su pelaje, hasta resolverse, traviesa,

en su hocico gris marrón, cazador de libélulas,

dentro del bosquecillo de trinitarias

y chispas rebeldes de sol.

 

Desde la ventana, tras ésta -jamás alcanzada- la mariposa,

albaía, destellante -hecha y deshecha- en cada aleteo,

infinita en su multiplicación, la que juega a vivir

-tan frágil- entre las cosas, entre todas las cosas...

Y es por la mañana ¿o es ya la tarde?,

tal vez, de algún jueves,

quizás, día doce,

de un supuesto mes y año fantasmas.

Con esta luz madura derramada sobre el mundo

que se cae a pedazos, manchando su historia de complejas

arterias destrozadas, todas del color de cuanto existe.

Y no lloverá hasta contadas tres auroras (lo sé),

y han removido, arado el terrero -ahí fuera- para sembrarlo;

ancho que se abre, brecha, entre la vieja yegua,

con su albo lucero,

y esta lucana en soliloquio de mi desván.

Y huele profundamente a tierra, a tierra verdadera...

como hace sesenta y un años, cuando una mujer gritó

-hembra humana de entrañas desgarradas- al asomar yo aquí

-¡aquí...!- donde la existencia, incomprensiblemente,

es un incesante parto; con su alevilla temblorosa, imborrable, cuasi eterna,

 

allí...

 

EM  FRENTE

 

...e aqui,

 

no sótão - os olhos, dois berlindes -

por detrás dos vidros sujos, por detrás da grelha cinzento-prateada

de rosetas ferrugentas, onde a ferrugem jorra

e a manhã se liquefaz em névoa,

por detrás dos ramos verde-amarelados

da gigantesca árvore do Paraíso,

atrás da cerca - colagem improvisada - construída às vezes,

de restos de objetos, de retalhos de vida

-homens sem rosto, com máscaras-, ali,

e em perspetiva, ao ar livre, finalmente a égua castanha,

com a sua vida fora do estábulo assimétrico,

e a sua estrela branca - um pacífico furacão doméstico -

pregada na testa como um carimbo do correio de leite coalhado.

Animal nobre e solitário, companhia diária tão livre,

que cavalga sobre o pousio em frente.

Que - junto com os comboios do dia (e da noite),

que passa a guinchar e a assobiar, selvagem - relinchando

num dom atávico de verve e consolação; enquanto isso

A Dona mia, seguindo-me pela casa,

pelo curral aberto para as inúmeras estrelas

-visíveis e invisíveis- fiel companheira felina

após o alheamento, como um luto, dos meus passos lentos

e o tropeçar dos meus pés descalços.

(Tradução de círculos, de hábitos prisionais, hoje).

Tudo isso numa vibração profusa, íntima, ronronante, quase astral

 que me cura - de mim, das minhas lamentações,

do medo - Dona...

com a sua lágrima rotunda, nevada - nascida do seu M cinza - capricho do seu pelo, até se resolver, travessa,

no seu focinho cinzento-castanho, caçadora de libélulas,

no bosque das trinitárias

e fagulhas rebeldes de sol

 

allí...

Desde a janela, por detrás desta, - jamais alcançada – a borboleta,

alvorecia, resplandecente –iluminando e apagando – a cada vibração,

infinita na sua multiplicação, brincando à vida

- tão frágil – entre as coisas, entre todas as coisas…

E é pela manhã… ou é pela tarde?,

talvez, de alguma quinta-feira,

quem sabe, um dia doce,

de um suposto mês e ano fantasmas.

Com esta luz madura derramada sobre o mundo

que se desfaz em bocados, manchando a sua história com complexas

artérias destroçadas, todas das cores de quanto existe.

E não choverá antes de contadas três auroras (sei-o),;

e alguém revolvido, arado o chão – por aí fora – para o semear;

rego que se abre, fenda, entra a velha égua,

com a sua estrela branca,

e este lucanário em solilóquio no meu sótão.

E cheira profundamente a terra, a terra verdadeira…

como há sessenta e um anos, quando uma mulher gritou

- fêmea humana de entranhas rasgadas – ao assomar eu aqui

- aqui…! – onde a existência, incompreensivelmente,

é um incessante parto; com o seu nascituro tremente, indelével, quase eterno,

 

ali…

 

 

de PÁJARO DE DESVÁN (poema inédito).

(Octavo mes de confinamiento durante la pandemia).

 

De PÁSSARO DE SÓTÃO (poema inédito)

(Oitavo mês de confinamento durante a pandemia)

 

© CGil,

 

Traducción de Vitor Cardeira



Comentarios

Entradas populares de este blog

POEMAS IBÉRICOS (19) TRES POEMAS DE JOSÉ LUIS PUERTO

POEMAS IBÉRICOS (38) POEMAS INÉDITOS DE JORGE VELHOTE

POEMAS IBÉRICOS (25) DOS POEMAS INÉDITOS DE ROSAURA ÁLVAREZ