POEMAS IBÉRICOS (55) MARÍA DOLORES ALMEIDA
María D.
Almeyda
publicou até à data nove livros de
poesia, quatro em edições de poesia partilhada, três livros de contos, dois
romances; colaborou em quatro ou cinco livros de contos com diferentes autores;
tem
poesia publicada nas revistas Estación
Poesía, da Universidade de Sevilha, em Piedra
del molino e em Fake, de León.
Colaborou em publicações independentes na sua cidade, com contos e poesia.
Humanos
QUIERO
volver donde el lobo se hizo hombre y habitó entre nosotros, donde la tempestad nunca calmó la brisa y los pasos marcados en la arena se hicieron imborrables, y quiero ir al lugar donde están las cenizas de donde habremos de nacer únicamente humanos. |
QUERO voltar onde o lobo
se tornou homem e habitou
entre nós, onde a
tempestade nunca calou a brisa e os passos
marcados na areia se tornaram
indeléveis, e eu quero ir
ao lugar onde jazem as cinzas de onde
nasceremos apenas
humanos. |
Dormir
CERRÉ los ojos y vi el poema escrito
sobre la arrugada piel de los
sudarios humedos
que soportaban mi indefenso sopor del
mediodía.
Abrí los ojos y el poema habia
desaparecido.
Solo el sombrío vaho de mi cuerpo
estaba allí,
incomodo y grosero.
Otro día, mas tarde, cuando habia
amanecido
cerré los ojos y de nuevo lo he visto
claro.
Leer a Pessoa en verano no deja de
ser una aventura
extraña y excitante.
El poema que perdí ya no pude
dormirlo
en otro sueño.
De
Desasosiego
Dormir
FECHEI os olhos e vi o
poema escrito
na pele enrugada das mortalhas húmidas
que sustentavam o meu sono desamparado do meio-dia.
Abri os olhos e o poema tinha desaparecido.
Apenas a névoa sombria do meu corpo estava lá,
incómoda e rude.
Noutro dia, mais tarde, quando a aurora já tinha
despontado
fechei os olhos e de novo tudo ficou claro.
Ler Pessoa no verão continua a ser uma aventura
estranha e excitante.
O poema que perdi, já não consegui adormecê-lo
num outro sonho.
Esperando al tiempo
PASO el día borrando lo que antes escribo, hablando sola,
discutiendo
conmigo y con las sombras que vienen
despacio a
acompañarme, que más que darme sombra
y compañía me
inquietan y me estorban.
Hago alguna
faena en modo distraído, olvido la memoria
de las
cosas, perfecciono por lo bajo algún poema
que pierdo
entre la espuma del cubo y la fregona.
Repito la
acción de ir a por la escoba y retrocedo
al borde de
la o, borrado de la mente el resto del mensaje
y la
intención primaria. Ya no sonrío apenas cuando
me pasa
esto. Despacio y cabizbaja vuelvo al ordenador
y escribo:
hoy no tomé las pastillas para recordar
que he de
tomar pastillas para el recuerdo. Cien veces
no me faltan
ni exagero
Alguna vez
me excedo en mis funciones. Coloco una bombilla
que se
fundió hace tiempo, arreglo un parche en la pared
al que le
pongo un cuadro sin clavarle puntillas
y me doy una
tregua y oigo unos golpes sonar en la madera
y temo que
sea el tiempo venidero quien me llame.
Prometo
recibirlo con la puerta cerrada
a cal y
canto, con la escopeta cargada y sin testigos.
Poema inédito, 2024
À
espera do tempo
PASSO o dia a apagar
o que escrevia, a falar comigo mesmo,
discutindo
comigo mesmo e com as sombras que devagar vêm
a
acompanhar-me, que mais do que dar-me sombra
e companhia, me
perturbam e atrapalham.
Faço algum
trabalho de forma distraída, esqueço a memória
das coisas,
aperfeiçoo calmamente algum poema
que perco na
espuma do balde e da esfregona.
Repito a ação
de ir buscar a vassoura e volto para trás
para a beira do
o, apagado da minha mente o resto da mensagem
e a intenção
principal. Já quase não sorrio quando
isto me acontece.
Devagar e cabisbaixa, volto ao computador
e escrevo: hoje
não tomei os comprimidos para me lembrar
que tenho de
tomar comprimidos para a memória. Cem vezes
Não estou a
faltar nem a exagerar
Às vezes
exagero nas minhas tarefas. Coloco uma lâmpada
que já se
queimou há muito tempo, ponho um remendo na parede
e coloco-lhe um
quadro sem o pregar
e dou um
descanso a mim próprio e ouço um bater na madeira
e temo que seja
o porvir quem me chama.
Prometo
recebê-lo com a porta bem fechada
e com a
espingarda carregada e sem testemunhas.
Poema inédito, 2024
Traducción de SAL y Vítor G. Cardeira
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