POEMAS IBÉRICOS (78). POEMAS DE ANA MARIA OLIVEIRA

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 Ana Maria Rodrigues Oliveira nasceu, no Alto Alentejo, no distrito de Portalegre e concelho de Castelo de Vide. Em 1986 finalizou a licenciatura em Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Licenciatura que lhe permitiu lecionar filosofia durante alguns anos. Edita o seu primeiro livro de poesia, Grito de liberdade, em 2008 através da Corpos Editora. Dedica a obra a todas as mulheres, pela luta e determinação com que enfrentam as adversidades de uma sociedade que ainda manipula e escraviza. Ainda no mesmo ano participa de duas coletâneas: A arte pela escrita (prosa), da editora Escritartes e Poemas sem fronteiras “Ora vejamos…2008”, Editora LULU de Leiria que faz uma recolha impressionante da poesia contemporânea. Nesta última, a autora obtém o prêmio da Menção honrosa com o seu poema “Farsa”. Lança Espírito Guerreiro (edição do autor), seu segundo livro de poesia, em 2014. Participa de um projeto ligado a filosofia para crianças. Apresenta os seus trabalhos, entre eles algumas resenhas, em várias revistas de literatura e poesia. Mantém alguns sites em que divulga a sua escrita: abismo verbal, devir quântico, contar com sentido etc.


PARAÍSOS FICTICIOS

 

A respiração escaldante anuncia arquiteturas desoladas

Criadas nos terramotos cegos do desassossego que enlouquece

A náusea invade os sentidos derrubando o alento

Tal é a velocidade estonteante que o cérebro tece

 

Excluo o marasmo dos vendedores de paraísos

Permaneço num campo de múltiplas portas e janelas

Por onde esvoaço pedalo ando vomito em logradouros

É a infinda selva dentro de mim em exaltação

Que se expande sem grilhões nem muros

 

Quando a mente ultrapassa o alcance de múltiplos paralelos

Descubro incansável novas vias de circulação

E nesta inquietude desértica surge um ponto de orvalho

Propício à plantação de telas camaleónicas

Pintadas por criaturas circenses opinando sobre cosmovisão

 

O nível de oxigénio desce conforme as bocas dos famintos

Devoram em estado selvagem a massa de vida

Embrenhando-se na virgindade dos ecossistemas

Sugando o ventre da terra aliciando seres robóticos

A absorver veneno em lugar de água perante situações extremas

 

Afogo-me nos cursos de água desenfreados

Asfixio embrenhada em altas precipitações

Dissolvo-me na biodiversidade do conflito sem rosto

Submerjo na mudez e surdez em irrefreadas indagações

           

 

El aliento ardiente anuncia arquitecturas desoladas

Creadas en los terremotos ciegos del desasosiego enloquecedor

La náusea invade los sentidos, anulando la respiración

Tal es la velocidad vertiginosa que el cerebro teje

 

Excluyo la debilidad de los vendedores de paraísos

Permanezco en un campo de múltiples puertas y ventanas

Dondequiera que vuelo, pedaleo, vomito en lugares públicos

Es la jungla interminable dentro de mí en exaltación

Quien se expande sin grilletes ni muros

 

Cuando la mente sobrepasa el alcance de múltiples paralelos

Descubro incansable nuevas formas de circulación

Y en esta desértica inquietud aparece un punto de rocío

propicio para plantar lienzos camaleónicos

Pintados por criaturas circenses que opinan sobre cosmovisión

 

El nivel de oxígeno desciende mientras las bocas de los hambrientos

devoran salvajemente la materia de la vida

Hurgando en la virginidad de los ecosistemas

Succionando el vientre de la tierra seduciendo a seres robóticos

Absorbiendo veneno en lugar de agua en situaciones extremas

 

Me ahogo en cursos de agua desenfrenados

Me asfixio enredada en lluvias torrenciales

Me disuelvo en la biodiversidad de conflictos sin rostro

Me sumerjo en el mutismo y la sordera en indagaciones desenfrenadas

 

 

https://metamorfosedosafetos.blogspot.com/2024/06/paraisos-ficticios.html

***

O crepitar das sementes

Germina o terror nas embarcações flutuantes

Ao serviço dos egocêntricos e gananciosos

Açambarcadores de humanos famintos pela noite calada

Prepara-se a contenda no improviso das lágrimas

No desacerto dos ponteiros do relógio

Que permanece apontando a carnificina sofisticada

A tensão rompe fronteiras em delírio

Onde as crianças desaparecem na convergência da paranoia

Os danos colaterais são assinalados a frio

De forma robótica e precisa sem alarido

Como uma criatura nascida para obedecer e sem apego

Programada para realizar a cisão necessária

À implementação do poderio empedernido

Somos assolados pelo deslize dos corpos em decomposição

Empurrados pela derrapagem das viaturas sem freio

Pontapeados pela tempestade que sobrevém ao inferno do fogo

Surge então um batimento cardíaco rasgado pelo furacão cego

Esbarrando com a ausência de empatia de seres medonhos

Potências macabras que enlouquecem esquartejando

Derrubando inundando manobrando calabouços por decisão de lunáticos

Bombardeando as sementes futuras soterrando os sonhos         

 

El crepitar de las semillas

Germina el terror en naves flotantes

Al servicio de egocéntricos y codiciosos

Acaparadores de humanos hambrientos en la noche callada

Se prepara la contienda en la improvisación de las lágrimas

En el desconcierto de las agujas del reloj

Que sigue señalando la sofisticada carnicería

Rompe la tensión las fronteras en delirios

Donde los niños desaparecen en la convergencia de la paranoia

Los daños colaterales se señalan fríamente

De forma calculada y precisa sin aspavientos

Como una criatura nacida para obedecer y sin apego

Programada para hacer la escisión necesaria

Para la aplicación del poder obstinado

Somos arrasados por el deslizamiento de cuerpos en descomposición

Empujados por el derrape de vehículos sin frenos

Pateados por la tormenta que viene del infierno del fuego

Luego viene un latido desgarrado por el huracán ciego

Chocando contra la falta de empatía de seres horrendos

Poderes macabros que enloquecen desmembrando

Derribando inundando mazmorras maniobrando por decisión de lunáticos

Bombardeando semillas futuras, enterrando sueños         

 

 

RETRATO DE LA POETA

(POEMA para Ana María Oliveira)

 

LA FUERZA de tu rostro

en la fugacidad del Olvido.

En adjetivos nos envuelven las artimañas del nombre. ¿Podríamos llevar, con orgullo, cualquier nombre (de mujer o de hombre)? Sí o tal vez no. Entre yerbas y olivos, llevas el nombre de madre y con la palabra maresia dices que amas, temiendo enseñar el corazón flagrado. Voces vencidas por el miedo dicen lo que no queremos oír y buscamos refugio donde se asilan los padres. ¿Quién puede decir si ama o es amado?

 

© SAL, febrero 2025

 


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